sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Autor: Machado de Assis  
Idioma: Português 
País : Brasil
Gênero: Realismo 
 psicológico,romance impressionista.
Editora: Livraria Garnier
 

Dom Casmurro

.Dom Casmurro é um romance escrito por Machado de Assis em 1899 e publicado pela Livraria Garnier. Foi escrito para sair diretamente em livro, o que ocorreu em 1900, embora com data do ano anterior. Completa a "trilogia realista" de Machado de Assis, ao lado de Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, tendo sido esses dois escritos primeiramente em folhetins.Seu personagem principal é Bento Santiago, o narrador da história que, contada em primeira pessoa, pretende "atar as duas pontas da vida", ou seja, unir relatos desde sua mocidade até os dias em que está escrevendo o livro. Entre esses dois momentos Bento escreve sobre suas reminiscências da juventude, sua vida no seminário, seu caso com Capitu e o ciúme que advém desse relacionamento, que se torna o enredo central da trama. Ambientado no Rio de Janeiro do Segundo Império, se inicia com um episódio que seria recente em que o narrador recebe a alcunha de "Dom Casmurro", daí o título do romance. Machado de Assis o escreveu utilizando ferramentas literárias como a ironia e uma intertextualidade que alcança Schopenhauer e sobretudo a peça Otelo de Shakespeare.
Ao longo dos anos, Dom Casmurro, com seus temas como o ciúme, a ambiguidade de Capitu, o retrato moral da época e o caráter do narrador, recebeu inúmeros estudos, adaptações para outras mídias e sofreu inúmeras interpretações, desde psicológicas e psicanalíticas na crítica literária dos anos 30 e dos anos 40, passando pelo feminismo na década de 1970 até sociológicas da década de 1980, e adiante. Creditado como um precursor do  Modernismo e de ideias posteriormente escritas por Sigmund Freud, o livro influenciou os escritores John Barth, Graciliano Ramos e Dalton Trevisan e é considerado por alguns a obra-prima de Machado. Além de ter sido traduzido para outras línguas, continua a ser um de seus livros mais famosos e é considerado um dos mais fundamentais de toda a literatura brasileira.

Estrutura da obra

O romance Dom Casmurro é dividido em 148 capítulos de diversas dimensões, predominando os curtos (técnica já ultilizada em Memórias Póstumas de Brás Cubas).

Ação - O enredo da obra não é dinâmico, já que predomina o elemento psicológico. A narrativa é digressiva, ou seja, interrompida todo o tempo por fugas da linearidade para acrescentar pensamentos ou lembranças fragmentadas do narrador.

Foco narrativo - O romance é narrado em primeira pessoa, por Bento Santiago, que escreve a história de sua vida. Dessa forma o romance funciona como uma pseudo-biografia de um homem já envelhecido que parece preencher sua solidão atual com a recordação de uma passado que nunca se distancia verdadeiramente, porque -foi marcado pelo seu sofrimento pessoal.

Tempo - O tempo é cronológico, cuja primeira referência é o ano de 1857, no momento que José Dias sugere a D. Glória a necessidade de apressar a ida de Bentinho para o seminário. Em 1858, Bentinho vai para o seminário. Em 1865, Bentinho e Capitu casam-se. Em 1872, Bentinho e Capitu separam-se. Aliás, se observarmos melhor essas datas, veremos que entre a ida de Bentinho para o seminário e o casamento decorrem sete anos, entre este último e a separação mais sete anos. Se tomarmos em conta essa "suposta coincidência", podemos perceber que cada período forma um ciclo completo: ascensão, plenitude e declínio ou morte do sentimento amoroso.

Espaço - Toda a ação narrativa passa-se no Rio de Janeiro. O narrador faz-nos acompanhar sua trajetória pelos bairros e ruas do Rio, desde o Engenho Novo, onde -escreve sua obra, até a Rua de Matacavalos, onde passou sua infância e conheceu Capitu. É interessante lembrar, que as duas casas amarram-se novamente num círculo perfeito, já que a do Engenho Novo foi construída à semelhança da casa de Matacavalos. A tentativa do narrador de atar as duas pontas da vida parece funcionar não apenas na ligação entre o presente e o passado, mas também na própria estrutura da obra, como vimos na introdução dessa parte.

Personagens Principais

Capitu
Bentinho

, "criatura de 14 anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo,... morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo... calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos". Personagem que tem o poder de surpreender : "Fiquei aturdido. Capitu gostava tanto de minha mãe, e minha mãe dela, que eu não podia entender tamanha explosão". Segundo José Dias, Capitu possuía "olhos de cigana oblíqua e dissimulada", mas para Bentinho os olhos pareciam "olhos de ressaca"; "Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, com a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca". A personagem nos é pintada leviana, fútil, a que desde pequena só pensa em vestidos e penteados, a que tinha ambições de grandeza e luxo. Foi comparada, certa vez pela crítica, como a aranha que devora o macho depois de fecundada.

, também protagonista, que ocupa uma postura de anti-herói. Não pretendia ser padre como determinara sua mãe, mas tencionava casar-se com Capitu, sua amiga de infância. Um fato interessante é que os planos, para não entrar no seminário, eram sempre elaborados por Capitu. É o narrador e pseudo-autor da obra. Na velhice, momento da narração, era um homem fechado, solitário e triste. As lembranças de um passado triste e doloroso, tornaram-no um indivíduo de poucos amigos. Desde menino, foi sempre mimado pela mãe, pelo tio Cosme, por prima Justina e pelo agregado José Dias. Essa super-proteção tornou-o um indivíduo inseguro e dependente, incapaz de tomar decisões por conta própria e resolver seus próprios problemas. Essa insegurança foi, sem dúvida, o fato gerador dos ciúmes da suspeita de adultério que estragaram sua vida. As personagens secundárias são descritas pelo narrador:

Dona Glória, mãe de Bentinho, que desejava fazer do filho um padre, devido a uma antiga promessa, mas, ao mesmo tempo, desejava tê-lo perto de si, retardando a sua decisão de mandá-lo para o Seminário. Portanto, no início encontra-se como opositora, tornando-se depois, adjuvante. As suas qualidades físicas e espirituais.

Tio Cosme, irmão de Dona Glória, advogado, viúvo, "tinha escritório na antiga Rua das Violas, perto do júri... trabalhava no crime"; "Era gordo e pesado, tinha a respiração curta e os olhos dorminhocos". Ocupa uma posição neutra: não se opunha ao plano de Bentinho, mas também não intervinha como adjuvante.

José Dias, agregado, "amava os superlativos", "ria largo, se era preciso, de um grande riso sem vontade, mas comunicativo... nos lances graves, gravíssimo", "como o tempo adquiriu curta autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo", "as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da índole". Tenta, no início, persuadir Dona Glória à mandar Bentinho para o Seminário, passando-se, depois, para adjuvante. Vestia-se de maneira antiga, usando calças brancas engomadas com presilhas, colete e gravata de mola. Teria cinqüenta e cinco anos. Depois de muitos anos em casa de D. Glória, passou a fazer parte da família, sendo ouvido pela velha senhora. Não apenas cuidava de Bentinho como protegia-o de forma paternal.

Prima Justina, prima de Dona Glória. Parece opor-se por ser muito egoísta, ciumenta e intrigante. Viúva, e segundo as palavras do narrador: "vivia conosco por favor de minha mãe, e também por interesse", "dizia francamente a Pedro o mal que pensava de Paulo, e a Paulo o que pensava de Pedro".

Pedro de Albuquerque Santiago, falecido, pai de Bentinho. A respeito do pai o narrador coloca: "Não me lembro nada dele, a não ser vagamente que era alto e usava cabeleira grande; o retrato mostra uns olhos redondos, que me acompanham para todos os lados..."

Sr. Pádua e Dona Fortunata, pais de Capitu. O primeiro, "era empregado em repartição dependente do Ministério da Guerra" e a mãe "alta, forte, cheia, como a filha, a mesma cabeça, os mesmos olhos claros". Jamais opuseram-se à amizade de Capitu e Bentinho.

Padre Cabral, personagem que encontra a solução para o caso de Bentinho; se a mãe do menino sustentasse um outro, que quisesse ser padre, no Seminário, estaria cumprida a promessa.

Escobar, amigo de Bentinho, seminarista, "era um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugitivos, como as mãos,... como tudo". Ezequiel Escobar foi colega de seminário de Bentinho e, como este, não tinha vocação para o sacerdócio. Melhor amigo de Bentinho. Gostava de matemática e do comércio. Quando saiu do seminário, conseguiu dinheiro emprestado de D. Glória para começar seu próprio negócio. Casou com Sancha, melhor amiga de Capitu. Morreu afogado depois de enfrentar a ressaca do mar.

Sancha, companheira de Colégio de Capitu, que mais tarde casa-se com Escobar.

Ezequiel, filho de Capitu e Bentinho. Tem o primeiro nome de Escobar. Quando pequeno, imitava as pessoas. Vai para a Europa com a mãe, estudou antropologia e mais tarde volta ao Brasil para rever o pai. Morre

Enredo

Bentinho, chamado de Dom Casmurro por um rapaz de seu bairro, decide atar as duas pontas de sua vida . A partir daí, inicia a contar sua história.
Órfão de pai e protegido do mundo pelo círculo doméstico e familiar. Morando em Matacavalos com sua mãe (D. Glória, viúva), José Dias (o agregado), Tio Cosme (advogado e viúvo) e prima Justina (viúva), Bentinho possuía uma vizinha que conviveu como "irmã-namorada" dele, Capitolina - a Capitu. Seu projeto de vida era claro, sua mãe havia feito uma promessa, em que Bentinho iria para um seminário e tornaria-se um padre. Cumprindo a promessa Bentinho vai para o seminário, mas sempre desejando sair, pois tornando-se padre não poderia casar com Capitu.
Apesar de comprometida pela promessa, também D. Glória (mãe de Bentinho) sofre com a idéia de separar-se do filho único, interno no seminário. Por expediente de José Dias (amigo da família), Bentinho abandona o seminário e, em seu lugar, ordena-se um escravo. José Dias, que sempre foi contra ao namoro dos dois, é quem consegue retirar Bentinho do seminário, quase convencendo D. Glória que o jovem deveria ir estudar no exterior, José Dias era fascinado por direito  e pelos estudos no exterior.
Correm os anos e com eles o amor de Bentinho e Capitu. Entre o namoro e o casamento, bentinho se formou em direito  e fez estreita amizade com um ex-colega de seminário, o Escobar, que acaba se casando com Sancha, amiga de Capitu.Do casamento de Bentinho e Capitu, nasce Ezequiel. Escobar morre afogado e, durante seu enterro, Bentinho julga estranha a forma pela qual Capitu contempla o cadáver. Percebe que Capitu não chorava, mas aguçava um sentimento fortíssimo. A partir desse momento começa o drama de Bentinho. Ele percebe que o seu filho  era a cara de Escobar e ele já havia encontrado, às vezes, Capitu e Escobar sozinhos em sua casa. Embora confiasse no amigo, que era casado e tinha até filha, o desespero de Bentinho é imenso. cresce, Ezequiel se torna cada vez mais parecido com Escobar. Bentinho, muito ciumento, chega a planejar o assassinato da esposa e do filho, seguidos pelo seu suicídio, mas não tem coragem. A tragédia dilui-se na separação da casal.
Capitu viaja com o filho para a Europa, onde morre anos depois. Capitu escreve-lhe cartas, a essas altura, a mãe de Bentinho já havia morrido, assim como José Dias. Ezequiel um dia vem visitar o pai e conta da morte da mãe. O pai, que apenas constata a semelhança entre o filho e o antigo amigo de seminário. Ezequiel volta a viajar e pouco tempo depois, Ezequiel também morre, mas a única coisa que não morre no romance é Bentinho e sua dúvida.

Estilo de época e individual


O Realismo é um estilo de época da segunda metade do séc. XIX, marcado por uma forte oposição às idealizações românticas. Assim, as personagens realistas apresentam mais defeitos do que qualidades, destacando-se as temáticas do adultério, dos interesses econômicos, da ambição desmedida, da dissimulação e da vaidade etc.
Machado de Assis, entretanto, ultrapassou a própria estética realista, na qual está inserido, ao utilizar recursos narrativos que não são típicos dos demais autores de sua época, antecipando mesmo certos aspectos de modernidade, o que aliás contraria o que disse dele Mário de Andrade em Aspectos da Literatura Brasileira. O emprego do micro-capítulo e de técnicas cinematográficas são bons exemplos dessa modernidade.
Machado foi o mais fino analista da alma humana, mergulhando densamente na psicologia de suas personagens para decifrar-lhes os enigmas da alma, seus sofrimentos, pensamentos e retirando desse mundo íntimo um retrato humano e social até hoje insuperável.
Seu estilo não é linear, como nos demais realistas, mas digressivo, paródico e metalingüístico. Em Dom Casmurro, por exemplo, o narrador não se contenta em contar a sua história, mas parece conduzir o leitor por caminhos tortuosos através de sua memória e seus pensamentos antes de decifrar seu passado. Não satisfeito, parece adiar ainda mais os fatos na tentativa de explicar a própria obra (metalinguagem), justificando-se com ele (leitor incluso) ou ironizando-o.

Biografia do autor

         Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis
Às 3h20m de 29 de setembro de 1908 na casa de Cosme Velho, Machado de Assis morre aos sessenta e nove anos de idade com uma úlcera canceriosa na boca; sua certidão de óbito relata que morrera de arteriosclerose generalizada, incluindo esclerose cerebral, o que, para alguns, figura questionável pelo motivo de mostrar-se lúcido nas últimas cartas já relatadas. Ao geral, teve uma morte tranquila, cercado pelos companheiros mais íntimos que havia feito no Rio de Janeiro: Mário de Alencar, José Veríssimo, Coelho Neto, Raimundo Correia, Rodrigo Otávio, Euclides da Cunha, etc. Este último relatou, no Jornal do Comércio, no mesmo ano do falecimento: "Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do poeta, em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace de sua enfermidade." Euclides ainda escreveu: "Na sala de jantar, para onde dizia o quarto do querido mestre, um grupo de senhoras – ontem meninas que ele carregara no colo, hoje nobilíssimas mães de família – comentavam-lhe os lances encantadores da vida e reliam-lhe antigos versos, ainda inéditos, avaramente guardados em álbuns caprichosos."
(Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 — Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade.Os biógrafos notam que, interessado pela boémia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.